4 de março de 2015

MÚSICA CLÁSSICA NO BRASIL: O DESAFIO DA POPULARIZAÇÃO






Música clássica no Brasil: o desafio da popularização
Institutos abrem caminhos para o erudito ficar mais perto do grande público

Embora o mercado nacional ainda seja restrito para a música clássica, os últimos anos foram marcados por uma expansão do setor. Festivais, conferências e a abertura de novos espaços, como a Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, e a nova sala de concertos da Orquestra Filarmônica de Belo Horizonte, são exemplos concretos do trabalho em prol da ampliação do acesso ao estilo musical, que também conta com eventos como a Conferência MultiOrquestra, promovida pela organização internacional British Council, para refletir e propor novas ideias para a música clássica no Brasil.

“No decorrer do século XX, houve um afastamento entre a arte contemporânea e a vida cotidiana. No caso da música, ela se tornou mais intelectualizada. A linguagem da música moderna, assim como da arte moderna, não está no dia a dia da grande maioria das pessoas”, afirma o presidente da Federação Nacional dos Meninos Cantores do Brasil, e diretor artístico do Coral dos Canarinhos de Petrópolis, o maestro Marco Aurélio Lischt, que destacou a importância de as pessoas terem um ouvido mais amplo para as diversas modalidades musicais.

Diversas instituições e profissionais têm trabalhado para manter a chama da música erudita acesa. Segundo o maestro, assim como existe um grande movimento de retomada da música clássica no Brasil, há também um trabalho de resgate da música sacra: “Este é um processo muito incipiente, mas começa a aparecer. Os compositores modernos se preocupam em escrever músicas que possam ilustrar as passagens da missa. No entanto, ainda há uma carência muito grande de compositores para a música sacra funcional, que possa ser usada na liturgia. Como esse processo está no começo, desejamos que esse movimento cresça com o passar do tempo”, comentou.

Hoje, os principais difusores desta arte são as grandes orquestras, que funcionam nos principais centros financeiros do país, como a Fundação Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp) e a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). No entanto, apenas as orquestras não são suficientes para tornar a música erudita mais popular entre os consumidores de cultura no Brasil. Por isso, diversos grupos transmitem a música clássica para todos os tipos de público, em diversas partes do Brasil, através de outros meios.

Marco Aurélio Lischt ressalta que, neste ponto, os corais tem grande importância para auxiliar na disseminação da música clássica e na formação de novos públicos. O trabalho desenvolvido no Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis, por exemplo, contribui triplamente: na formação de cantores, no acesso à cultura e como meio de divulgação da arte, seja durante as apresentações ou por meio de sua discografia.

Para o maestro, quanto antes as pessoas se acostumarem a ouvir outras obras que não as comerciais, melhor. A constatação vem do convívio do Instituto dos Meninos Cantores que anualmente recebe dezenas de meninos e meninas interessados em fazer parte dos coros da instituição ou da Escola de Música, onde aprendem violino, violão, baixo, piano, órgão de tubos e regência coral. “Os alunos passam a ter um gosto mais apurado, buscando aprender e apreciar outras formas de manifestação artística. Além disso, essa formação cultural ajuda a ampliar a visão de mundo destes jovens, que passam a ter maior senso crítico e poder de questionar as coisas”, declarou, lembrando, no entanto, que este tipo de trabalho ainda não é desenvolvido em larga escala no Brasil. “As escolas ainda carecem de profissionais da área que possam propiciar uma formação musical de melhor qualidade entre os alunos e consequentemente fomentar um número maior de estudantes de música no ensino superior”, destacou.

Para o maestro os desafios ainda são muito grandes: “O Brasil ainda está aquém do que deveria ser uma atividade musical abrangente do ponto de vista nacional. O que se vê, por exemplo, numa cidade como o Rio de Janeiro, são pouquíssimas produções anuais de ópera e cortes no orçamento das orquestras profissionais, que não são muitas na capital de nosso estado”, afirmou, situando o Instituto dos Meninos Cantores como referência na persistência destas atividades musicais.  “Trabalhamos há 72 anos para manter esta expressão cultural em um país onde, talvez para muitos, as realizações musicais estão comprometidas ou já extintas”, ressaltou.

Philippe Fernandes

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